Visitinhas

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Procuro em mim aquilo que há tanto perdi
Doçura, candura, gentileza, sutileza, leveza
Um dia as tive?
Procuro em mim aquele ser cantante, dançante, falante, pulsante
Seguro o volante da vida que a mim foi dada, olho os sinais atentamente e embassadamente, desinteressadamente
Presto atenção às placas: Promoção! Vende-se! Aluga-se! Procura-se! Aberto! Fechado!
Os rostos que vão passando à volta cheios de enigmas envoltos em seus pensamentos secretos a mim. Palavras rodopiando naquelas mentes, sentimentos, desejos, esperas...
Volto às placas, estão por toda parte.
Que placa me representa?
Dirijo com calma, mas não paro de olhar que o combustível está no fim, não há como abastecer, não há onde abastecer, não quero abastecer
Engarrafamentos, acidentes, semáforos, chuva, asfalto gasto, tudo me interrompe, tudo me corrompe e corrompida sigo, pois não há como voltar. Agora é só seguir
Sinto vontade de parar. Encostar a cabeça no volante, fechar os olhos, tirar o cinto de segurança, abrir as janelas, desligar o motor
Ligar o som no último volume naquela música que tanto me faz rir e chorar ao mesmo, me traz lembranças de mim mesmo, dele, de nós, de todos
Não me importar com outros carros que estão atrás, a lado, à frente... De certo irão buzinar enlouquecidos, furiosos... Não me importaria! Apenas me daria o direito de estar ali, largando aquele volante, me desprendendo dele, me (des) aprisionando dele, me desapropriando dele
Desejo subir no capô enquanto aquela música ensurdece a todos e, louca, insana, desajuizada, desvairada dançar, dançar e dançar...
...Dançar até que as buzinas se calem e a noite chegue enegrecendo tudo, silenciando tudo, trazendo em seu colo o breu, o léu
Só quero que essa dor passe
Só quero que meu desassossego abandone-me e siga seu destino traiçoeiro e fatídigo
Quero soltar o volante, não quero olhar o retrovisor
Quero seguir a pé, não me importa para onde
Quero apenas seguir

Um comentário:

Seja gentil com a vida e ela retribuirá :-)